11/27/2014

O DESCARREGO COM PÓLVORA

Esses dias, saudoso me recordava dos rituais que aconteciam no primeiro Templo do qual eu fiz parte, ainda um jovem começando a aprender os mistérios da magia e da Umbanda, me pegava fascinado com tudo que acontecia.
Tive muita sorte de ter iniciado minha trajetória no que eu pessoalmente chamo de “Terreiro a moda antiga”, digo isso, pois, na sequencia da jornada acabei deixando de ver muitas coisas que cresci vendo, os rituais vão se modernizando e muitas vezes dando vazão a praticidade, o que de certo modo me preocupa em algumas ocasiões, pois, o mais pratico nem sempre significa o mais eficaz.
Um destes rituais que adorava assistir e hoje em dia encontramos com uma maior dificuldade, são os rituais que levavam pólvora, claro, entendo que devido a proibição da venda da pólvora em sua composição original atrapalha e muito os rituais umbandistas, hoje apenas temos a disposição o composto que chamamos de “fundanga”, mas produz um efeito muito similar. Afinal de contas a quem não sabe, “fundanga” é um termo angolano na língua quicongo significa nada mais nada menos do que pólvora, e sabemos que entre as sínteses e sincretismos que a Umbanda possui das culturas africanas, o ritual herdou muito do povo Banto, Congo e Angola.
Me recordo que minha Madrinha fazia o que ela chamava de circulo de fogo ou caminho de fogo, esse ritual servia como uma purificação, descarga e descarrego completos, poucos seres ousavam continuar próximo a pessoa depois desse caminho, e claro, eu no auge da minha curiosidade queria ser o primeiro a ajudar nesse ritual.
O ritual consistia basicamente em fazer um caminho, geralmente circular com álcool, tínhamos uma valeta no chão numa localidade no Templo próprio pra isso, formava ao centro um desenho de uma mandala, e o circulo a volta era em valeta para o álcool ficar, então era ateado fogo no álcool, gerando aquele circulo de fogo em volta da mandala. A pessoa que estava sendo purificada caminhava com o fogo passando em meio de suas pernas, lembro de forma muito poética como tudo ocorria, pois, os trabalhos eram sempre a noite a céu aberto na luz do luar, de fundo se ouviam os cânticos das curimbeiras entoando pontos de descarga, de chamada de força e de combate, enquanto minha Madrinha ou o guia chefe que dirigia o trabalho parecia bradar para as forças das trevas que acompanhavam a pessoa, e na sequencia do caminho era jogado os cartuchos de pólvora onde parecia ser o ápice do descarrego.
Quem já fez um cartucho de pólvora ou já viu algum ritual parecido sabe que quando ele estoura produz uma breve e rápida luminosidade, com um leve som de queimar e a fumaça se desloca ao ar, porém, energeticamente, o que será que se passa?
Existem duas formas de fazer este cartucho, uma é com a pólvora negra, que é bem mais difícil de achar hoje em dia, na sua composição vem dosagens de enxofre, caso não encontre essa pólvora apelamos para a boa e velha fundanga, que na sua composição não possui enxofre, porém, o pó de enxofre é facilmente encontrado, ou seja, caso faça o descarrego com a fundanga pode ser colocado uma pequena dose de pó de enxofre na composição.
Faço um alerta a todos, pois, tais trabalhos devem ser feitos a mais céu aberto o possível, pois, a fumaça da queima do enxofre em grandes quantidades é toxica ao ser humano.
Enfim, o intuito deste texto não é ensinar fazer este descarrego uma vez que quem deve fazer isso é o dirigente espiritual dos terreiros, e este com certeza já teve o treinamento e o preparo para executar devidos rituais, aqui vou abordar o campo energético do processo.
O fogo em seu campo energético assim como no físico, possui a capacidade de depurar, queimar, esgotar, e essa função é utilizada na queima em diversos pontos, primeiro com o fogo que está presente nos rituais queimando todas as energias negativas, miasmas, larvas astrais e qualquer ser negativado também, na sequencia a explosão da pólvora produz um grande brilho e luz no momento, luz essa que energeticamente fere e incomoda seres que estão acostumados com a escuridão, pois, este clarão se reverbera no campo espiritual com a potencialidade do fogo.
Quando observamos o estouro, podemos perceber a velocidade com que o ar se desloca, produzindo muita fumaça, esse deslocamento já envolve mais um elemento, o ar, que é essencial para dar vida ao fogo e é o meio de transporte mais rápido para o elemento fogo, pois, no plano espiritual aquela fumaça que vemos corroe o próprio campo atmosférico se assim posso dizer, dos espíritos desequilibrados que ali estão, e começam a queima-los internamente quando inalam essa fumaça.
Por ultimo mas não menos importante vem a queima do enxofre, que já entra com o elemento terra, uma vez que sua origem é da crosta terrestre, também nos ajuda a entender seu poder de “destruição” sabermos que é abundantemente encontrado nas regiões vulcânicas.
Ao entrar em combustão pelo fogo o enxofre muda seu estado e vira um pó muito fino, uma fumaça na verdade, e essa fumaça atua de forma diferente da fumaça da pólvora. Sabemos que os antigos já respeitavam as divindades vulcânicas e sempre utilizaram o enxofre como uma espécie de protetor, pois, o seu poder no campo espiritual é terrível.
A fumaça do enxofre tem uma reação muito parecida com o ácido no campo espiritual e quando envolve um corpo espiritual começa a propriamente dissolver seu períspirito, e se esse espirito ainda não tiver um desprendimento de espirito e carne, pode começar a sentir sintomas de embolias pulmonares como se tivesse aspirando o próprio acido, vale lembra que se um espirito está atuando como obsessor a chance dele não ter um claro desprendimento de espirito e matéria é grande, logo a consequência pode ser das piores para ele.
Por isso, este ritual tão antigo mas que vem perdendo espaço para os novos ritos de Umbanda é tão funcional, eficaz e quase insubstituível na sua função, espero que muitas pessoas tenham a oportunidade de ver verdadeiros rituais do fogo acontecerem em seus terreiros como eu já tive a oportunidade e hoje tento passar isso a meus filhos.
Pai Felipe Campos

11/18/2014

INCORPORAÇÃO FORA DO TERREIRO


Esse é um tema que tenho debatido muito com os filhos-de-fé da nossa casa (Lar de Preto Velho). Nós, umbandistas de coração, temos uma necessidade quase fisiológica de auxiliar alguém quando o encontramos em dificuldades. Quem de nós já não teve vontade de auxiliar alguém necessitado, ansioso por fazer o bem, a ponto de não aguentar esperar o dia da gira para isso? Quem nunca pensou em incorporar as suas entidades em casa, ou na casa da pessoa necessitada ou até mesmo em outro lugar a fim de auxiliar o mais breve possível?
Atire o primeiro pó de pemba quem nunca pensou assim.
A intenção é ótima, não resta dúvida. Mas nem sempre as boas intenções são sinônimo de bons resultados. Conheço inúmeros relatos de casos em que a tentativa de ajudar foi desastrosa para ambas as partes: para o que buscava ajuda e também para o médium.
"Ah, minhas entidades são fortes e minha fé é firme" - dirão alguns. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas pergunto: e os eguns e quiumbas que você (e suas entidades) vai encarar são fracos? Você tem noção da força deles? Lembre-se que não são apenas os "bonzinhos" que têm força e firmeza.
Outro detalhe para refletir: se fosse para incorporar as entidades em casam (ou na casa do consulente), qual a necessidade de existir um terreiro, com tronqueira, congá e corrente mediúnica firmada? Se temos tudo isso num terreiro é porque lá é o lugar da incorporação e do atendimento acontecer. Se pensarmos o contrário - salvo casos de extrema necessidade - vamos fechar os terreiros e abolir os fundamentos da Umbanda, pois tudo isso passa a ser desnecessário.
Mas vamos ao que realmente interessa. Dar atendimento e incorporar fora do terreiro equivale a nadar em um rio de piranhas famintas. Imagine as falanges de espíritos sofredores, zombeteiros, trevosos, malfeitores, quiumbas e energias nefastas que o acompanharão e, provavelmente ficarão em seu lar. Sensações desagradáveis como mal estar, doenças, desarmonias não tardarão a surgir. E quem é o culpado disso? As suas entidades que se deixaram incorporar em qualquer lugar? Não, elas estão sempre dispostas a ajudar, independente da hora ou lugar. O culpado é você, que abriu as portas da sua vida e da sua casa para essas energias.
Mais que isso... você levará problemas não apenas para sua vida, sua casa e sua família. Levará problemas também para os seus irmãos-de-fé no terreiro, pois quando lá chegar, em dias de gira, estará carregado com essas energias. E bem sabemos que uma gira funciona como uma grande engrenagem. Quando uma das peças apresenta defeito, todo o mecanismo tende a falhar. Em outras palavras, todos os seus irmãos-de-fé sentem a baixa energia que chega na casa, e a gira tende a não correr da forma esperada.
E não adianta dizer que antes de fazer o antedimento domiciliar você firmou vela para seu anjo da guarda e para sua esquerda. Terreiro é terreiro. Ambiente familiar é morada de espíritos encarnados e não pronto socorro espiritual. Pense em tudo isso. Pense nos prejuízos que você pode levar a si próprio e à sua família. Lugar de manifestação de orixás e entidades é no terreiro, salvo exceções. como casos de saúde, em que o doente está totalmente impossibilitado de se locomover. O resto é vaidade do médium. E é justamente a vaidade que costuma derrubar os melhores médiuns.
Respeitar essa regra é respeitar a si mesmo, é respeitar a hierarquia da sua casa, é respeitar o consulente (pois você não é detentor da verdade e não tem a certeza de que irá resolver os problemas dele), é respeitar seus irmãos-de-fé, é respeitar o nome do terreiro que frequenta e é respeitar, acima de tudo, os seus orixás e as suas entidades.
Douglas Fersan

11/06/2014

Se os “Guias” sabem, por que não falam, não avisam ?


Se você é adepto de uma religião que lhe propicia o contato com “mensageiros espirituais” (sejam guias, Orixas, mentores, etc), já deve ter se deparado com essa questão diante de uma fatalidade em sua vida, ou na vida de um ente querido, de uma pessoa amiga e etc...
se os espíritos sabem e tem a condição de analisar e até prever situações futuras, por que não nos falam, não nos alertam em relação a essas situações?
Bem meus irmãos, isto é apenas uma singela reflexão minha, tão somente minha, não busquei em nenhum livro, apesar de obviamente concluir essa reflexão baseando-me em muitas leituras.

Começo lembrando-me de Jesus, que a todo tempo sabia de seu próprio destino e não evitou sua própria crucificação. Esse mesmo Jesus, ressuscitou à Lazaro, um parente distante, mas não ressuscitou à José, o próprio pai terreno.Baseando-me apenas nesses fatos, entendo que nem tudo deve ser nos dito, nem tudo deve ser feito em nosso favor.Quantos não são aqueles que sendo trabalhadores de uma Casa de Caridade, revoltam-se com as entidades por conta de não serem avisados de uma doença, em si próprio ou em família, um acidente com alguém próximo ou qualquer outra situação que coloque a vida em risco, quantos não são aqueles que afastam-se dos trabalhos ou das casas que frequentam a titulo de revolta por não serem avisados...Creio que o exemplo de Jesus possa desde já nos facilitar a reflexão...
Chico Xavier, durante a sua missão ficou praticamente cego por causa de uma catarata, e durante as “sessões de cura”, os médicos espirituais alem de receitarem remédios, ainda curavam muitos através de sua mediunidade, trabalhando junto a ele, Chico Xavier, então porque não o curaram também ? 
Fica aqui então a reflexão para todos aqueles que se acham especiais e querem ser os primeiros a serem “avisados ou curados” de qualquer mau que venha contra si ou seus entes queridos.

“ O QUE VOCÊ TIVER QUE PASSAR, VOCÊ VAI PASSAR, MELHOR SERÁ SE VOCÊ NAO PERDER A FÉ, COM FÉ CERTAMENTE O PESO DE QUALQUER COISA SERÁ SEMPRE MENOR E BEM MAIS DIVIDIDO”

PROF.º MARHEN RAM