3/26/2014

BOIADEROS

A LINHA DOS BOIADEIROS
Os espíritos que se manifestam na Umbanda na Linha dos Boiadeiros são aguerridos, valorosos, sisudos, de poucas palavras, mas de muitas ações.
Apresentam-se como espíritos que encarnaram, em algum momento, como tocadores de boiada, vaqueiros, pastoreadores etc.
Os seus pontos cantados sempre aludem a bois e boiadas, a campos e viagens, a ventanias e tempestades.
O laço e o chicote são seus instrumentos magísticos de trabalhos espirituais. Eventualmente usam colares de sementes ou de pedras.
O Arquétipo da Linha de Boiadeiros é a figura mítica do peão sertanejo, do tocador de gado, enfim, dos homens que viveram na lida do campo e dos animais e que desenvolveram muita força e habilidade para lidar contra as intempéries e as adversidades.
É um Arquétipo forte, impositivo, vigoroso, valente e destemido. Representa a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, também chamado de caboclo sertanejo. Lembra os vaqueiros, boiadeiros, laçadores, peões e tocadores de viola; muitos deles mestiços, filhos de branco com índio, de índio com negro etc., trazendo à nossa lembrança a essência da miscigenação do povo brasileiro, com seus costumes, crendices, superstições e fé.
Existem, no Astral, muitos espíritos que, em suas últimas encarnações, praticamente viveram sobre o lombo dos cavalos, dedicando-se a criar e a domesticar esses animais, tão úteis à humanidade, já que até um século atrás o cavalo era o principal meio de transporte. Foram vaqueiros, domadores de cavalos, soldados de cavalaria etc., e guardam em suas memórias recordações preciosas e inesquecíveis daqueles tempos. Em homenagem a eles é que se construiu, no Astral, o Arquétipo da Linha dos Boiadeiros.
Nesta Linha manifestam-se espíritos que usam seus conhecimentos ocultos para auxiliar pessoas que estejam atravessando momentos muito difíceis. São combativos, inclusive no corte de magias negativas, porque conseguem promover “um choque” em nosso campo magnético e liberá-lo de acúmulos negativos, obsessores etc.
Nem todos foram, de fato, “boiadeiros”, mas todos eles têm em comum a capacidade de atuar num campo específico e que caracteriza a Linha, qual seja o de nos trazer uma energia vigorosa, muito útil na quebra de cargas e magias negativas e para desfazer “cristalizações” mentais negativas, pois os Boiadeiros atuam no campo da Lei Divina e na Linha do Tempo.
A Linha de Boiadeiros é sustentada, num dos seus Mistérios, pelo Orixá Ogum. Por isso, eles são verdadeiros “soldados” que vigiam tudo o que acontece dentro do campo da Lei Maior, estando sempre prontos a acudir os necessitados.
Na Linha do Tempo, atuam sob a Regência de Mãe Oyá-Tempo e de Mãe Yansã, combatendo as forças das trevas pela libertação e o reerguimento consciencial dos espíritos que se negativaram, se desequilibraram e se perderam, recolhendo-os e os encaminhando para o seu local de merecimento na Criação.
Embora a Linha seja sustentada por esses Orixás (Ogum, Oyá-Tempo e Yansã), cada Boiadeiro vem na Irradiação de um ou mais Orixás que os regem especificamente, como acontece nas demais Linhas de Trabalho da Umbanda.
Na linguagem dos Boiadeiros, “boi” é o próprio ser humano em desequilíbrio. Ou seja, são os espíritos encarnados e os desencarnados em desequilíbrio perante a Lei Maior, necessitados de auxílio. Suas referências a cavalos, a tocar a boiada, a laçar e trazer de volta “o boi” desgarrado do rebanho, ou atolado na lama, ou arrastado pelos temporais, ou que se embrenhou nas matas e se perdeu, ou que foi atravessar o rio e foi arrastado pela correnteza etc., tudo isso tem a ver com o trabalho realizado pelos destemidos Boiadeiros de Umbanda: eles resgatam os espíritos que se rebelaram contra a Lei Divina, pois esses espíritos são como “bois e cavalos” que não aceitam os “cabrestos” ou limites criados pela Lei de Deus e que por isso precisam ser “domesticados” e educados. Nada melhor que os Boiadeiros para fazer isso.
Quando um Boiadeiro da Umbanda gira no ar o seu laço, ele está criando magisticamente, dentro do espaço religioso do Terreiro, as ondas espiraladas do Tempo, que irão recolher os espíritos perdidos nas próprias memórias desequilibradas e/ou irão desfazer energias densas acumuladas no decorrer do tempo.
Já quando um Boiadeiro vibra o seu chicote, está recorrendo de forma magística e religiosa à Divina Mãe Yansã, para movimentar e direcionar os espíritos estagnados no erro e na desordem. É muito efetivo o seu trabalho contra os espíritos endurecidos (“eguns”).
Dentro da Linha de Boiadeiros, em algumas Casas também se manifestam os “Cangaceiros”, simbolizando os espíritos daqueles que em recente encarnação viveram no sertão e lutaram contra grandes injustiças sociais. Isso pode parecer estranho, à primeira vista, e muitos se perguntam o quê um “cangaceiro” teria a oferecer, em termos de trabalho espiritual de ajuda.
Ocorre que os “cangaceiros” do sertão brasileiro de fato surgiram, em meados dos anos 1920, para defender as populações humildes dos maus tratos e desmandos dos “coronéis” e demais detentores do poder material, que massacravam os menos favorecidos, tomando-lhes muitas vezes até as mulheres, os poucos bens e a dignidade pessoal. Esses homens “poderosos” mandavam e desmandavam, pois se achavam acima das leis humanas e, por certo, não conheciam ou não respeitavam as Leis Divinas. E os “cangaceiros” (Lampião e seu “bando”, os mais famosos) representaram, à época, um movimento popular de revolta e combate a tais desmandos. Foram marginalizados, até porque aos “poderosos” isso convinha. É provável que tenham cometido lá seus excessos também, respondendo à violência das armas com outras armas; mas, pelo menos, tinham a justificativa de estar lutando pelos mais fracos. Já os opressores, qual desculpa teriam?
Enfim, o temperamento combativo desses espíritos de certa forma foi-se agrupando à Linha dos Boiadeiros e eles começaram a se manifestar para trabalhar, nos Terreiros de Umbanda que os acolhiam. Não são “bandidos e malfeitores”, mas espíritos que têm identificação com o Arquétipo do sertanejo forte e destemido.
Há Casas em que os Cangaceiros vêm na Linha de Baianos. Mas, tecnicamente falando, e sem desrespeitar opiniões em contrário, se bem analisarmos os Arquétipos das duas Linhas mencionadas, parece mais adequado a sua aproximação com os Boiadeiros. Porque o Arquétipo do Boiadeiro é o do homem sertanejo. Já o Arquétipo dos Baianos é o dos Sacerdotes (construído a partir dos primeiros Sacerdotes da Bahia e do Nordeste, que mantiveram, sustentaram e divulgaram o Culto aos Orixás). Mas, é claro, a Umbanda é uma religião universalista, voltada unicamente para a prática do Bem, de modo que não vale a pena discutir sobre divergências menores. Essencial é verificar se os espíritos que se manifestam estão praticando o Bem, dentro dos fundamentos da religião, independente do nome com o qual se apresentem.
Significado de algumas expressões usadas pelos Boiadeiros (Fonte: “Arquétipos da Umbanda”, Rubens Saraceni, 2007, Madras Editora, página 110) ―:
Cavalos= filhos de fé;
Boi= espírito acomodado;
Boiada= grande grupo de espíritos reunidos por eles e reconduzidos lentamente às suas sendas evolucionistas;
Laçar= recolher à força os espíritos rebelados;
Boi atolado= espírito que afundou nos lamaçais e regiões pantanosas;
Boi açoitado pelos temporais= egum caído nos domínios de Yansã e do Tempo, onde os “temporais são inclementes”;
Açoite ou chicote= instrumento mágico de Yansã, feito de fios de crina ou de rabo de cavalo;
Laço= instrumento do Tempo (Mãe Oyá-Tempo);
Bois afogados em rios= espíritos caídos nas águas profundas das paixões humanas;
Bois arrastados pelas correntezas= espíritos arrastados pelas correntezas turbulentas da vida;
Bois que se embrenharam nas matas e se perderam= espíritos que entraram de forma errada nos domínios de Oxóssi;
Bois atolados em lamaçais= espíritos caídos nos domínios de Nanã Buruquê;
Bois perdidos nos pantanais= espíritos que abandonaram a segurança da razão e se entregaram às incertezas das emoções.
Nomes simbólicos: Boiadeiro da Serra da Estrela, Zé do Laço, Zé das Campinas, João Boiadeiro, Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro de Imbaúba, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro Juremá, Zé Mineiro, Boiadeiro do Chapadão.
Dia da semana: A terça-feira, associada a Marte e aos Orixás Ogum e Yansã.
Algumas Casas lhes dedicam a quinta-feira, na regência do planeta Júpiter, este associado aos Orixás Xangô e Egunitá, por entenderem que os Boiadeiros são regidos pelos Orixás Ogum, Yansã e Egunitá. Considerando que há uma grande ligação entre os campos da Lei e da Justiça Divinas, essa interpretação tem lá seus fundamentos.
Campo de atuação: Recolhem os espíritos que se desviaram perante a Lei Divina e agem de forma desequilibrada em qualquer dos Sentidos da Vida; combatem os espíritos trevosos e as magias negativas; promovem uma limpeza profunda em nosso campo magnético, despertando em nossas vidas, de forma ordenada, movimento e direção.
Ponto de força: Os caminhos, as campinas, os espaços abertos e as pedreiras.
Saudação: Jetuá, Boiadeiro!
Cor: Azul escuro e amarelo. Em algumas Casas também o marrom e/ou o roxo.
Elementos de trabalho: Berrante, couro, laço, cabaça, terra, pedras, semente olho de boi, anis estrelado, corda, chifres, chicotes, pembas.
Ervas: Folhas de bambu, arruda, eucalipto, peregum, quebra-demanda, espada de São Jorge, lança de Ogum, espada de Santa Bárbara, pinhão roxo, casca de alho, casca de cebola, canela, anis estrelado, cravo, folhas de limão e de laranjeira, folhas de café e de fumo (tabaco).
Fumo/defumação: Cigarro de palha, fumo de corda, charuto.
Incenso: Benjoim, anis estrelado, cravo, canela, arruda, eucalipto.
Pedras: Hematita, Granada, Turmalina Preta, Ônix Preto. Também e especialmente as Drusas de Cristal e as Drusas de Ametista. As drusas são agrupamentos de várias pontas em uma única base. Elas trabalham a união e o agrupamento de pessoas ou de objetivos e limpam o ambiente. (Fonte quanto às Drusas: “Os cristais e os Orixás”, Angélica Lisanty, Madras Editora, 2008, página 84.)
Frutos: Abacaxi, carambola, limão, laranja, uva, banana, açaí, frutas de casca amarela ou vermelha, as frutas ácidas em geral, abóbora, cará, mandioca.
Flores: Cravos vermelhos, rosas vermelhas e amarelas, flores vermelhas e amarelas em geral.
Bebidas: Suco de frutas ácidas; vinho tinto seco; vinho branco; aguardente com pedaços de canela; água de coco; cerveja clara; conhaque; café com canela; vinho tinto doce ligeiramente aferventado com folhas frescas de eucalipto; vinho tinto doce fervido com pedacinhos de gengibre.
Resina: Benjoim (serve apenas para defumações, e NÃO para banhos).
Oferenda: Frutas, ervas (inclusive dos Orixás Ogum, Oyá-Tempo e Yansã), bebidas, pedras, velas.
Cozinha ritualística:
1-Caldo de mocotó- Cozinhar um mocotó em água, com uma colher de sopa de vinho tinto seco. Depois de cozido, retirar a panela do fogo. Retirar um pouco do caldo, acrescentar cerca de uma colher de sopa de farinha de milho branca e mexer para dissolver bem a farinha. Acrescentar essa mistura ao caldo que ficou na panela e misturar bem. Temperar tudo com sal, alho, cebola e temperos frescos a gosto. Levar de novo ao fogo e deixar aferventar um pouco. Esse caldo é muito nutritivo e também tem um poder de “limpeza” extraordinário em casos de magias negativas e de enfraquecimento do campo mediúnico.
2-Cebola branca deixada no sereno- Descascar uma ou mais cebolas brancas, cortar em fatias grossas e deixar de molho em água mineral, numa vasilha branca (de louça ou de vidro) coberta com um pano branco e colocada no tempo (em espaço aberto) durante uma noite, para receber sereno. Coar. O sumo que fica (água mineral + o sumo da cebola + a ação do sereno) é muito bom para purificação e equilíbrio. Pode ser usado para banho, desta maneira: ferver um pouco de água, retirar do fogo e esperar amornar. Acrescentar um pouco daquele sumo e fazer o banho.
As rodelas de cebola também podem ser passadas em azeite de oliva, temperadas com uma pitada de sal e folhas de manjericão ou de hortelã picadinhas e servidas para a Entidade manipular, ou podem ser ingeridas pelas pessoas. Isso tem ação curativa e alto poder de limpeza.
3-Arroz com lentilhas (ou ervilhas) e carne seca desfiada- Lavar as lentilhas (ou ervilhas) e deixar de molho em água por cerca de uma hora. Escorrer e reservar. Dessalgar a carne seca e cozinhá-la um pouco em água com dentes de alho picadinhos. Juntar as lentilhas (ou ervilhas) e esperar até que tudo esteja cozido. Retirar a carne seca e desfiar. Refogar a carne desfiada com cebola, alho picadinho, pimenta vermelha picadinha e sem as sementes, orégano e/ou cheiro verde a gosto. Reservar. Refogar o arroz e juntar água quente para o cozimento. Quando estiver quase seco, acrescentar a carne seca desfiada e as lentilhas (ou ervilhas). Terminar o cozimento em fogo mínimo. Pode-se também servir este arroz acompanhado de pedaços de abóbora cozida e refogada em azeite, sal e temperos a gosto.
4-Feijão tropeiro- Dessalgar e cozinhar um pedaço de carne seca cortada em cubinhos. Guardar a água do cozimento. Reservar a carne já cozida. Cozinhar um pouco de feijão naquela água onde a carne seca foi cozida, deixando-o em ponto firme, para que os grãos não desmanchem. Reservar o feijão e um pouquinho da água do seu cozimento (uma concha pequena). Em separado, aferventar duas vezes uma calabresa e um paio, trocando a água da fervura para eliminar excessos de gordura. Retirar a pele e cortar em cubinhos. Dourar em azeite de oliva alguns dentes de alho e uma cebola picadinhos. Colocar sal a gosto e acrescentar a carne seca, as linguiças e por último o feijão com um pouquinho da água do seu cozimento. Mexer com cuidado. Juntar um pouquinho de farinha de mandioca torrada ou de farinha de milho, misturando tudo para dar o ponto de um virado. Acrescentar temperos frescos picadinhos a gosto (cheiro-verde, orégano, pimenta etc.). Regar com um fio de azeite de oliva.
5-Arroz tropeiro- Meio kg de arroz, 200 g de lombo de porco, 200 g de costelinha defumada,uma linguiça defumada, 200 g de carne de sol, várias cebolas pequenas inteiras.
Preparo: O lombo é a única carne que precisa ser temperada com alho e sal a gosto. Fritar à parte: a linguiça, a carne de sol e a costelinha; depois, fritar o lombo e, assim que ficar bem dourado, colocar os outros ingredientes já fritos e o arroz. Acrescentar água quente e deixar o arroz cozinhar. Servir com couve refogada.
6-Frutas variadas, especialmente as de polpa vermelha e as de casca amarela.
7-Costela de boi- Temperar com sal, alho e cebola, tomate, pimentão amarelo e vermelho e cheiro-verde (todos picadinhos), orégano e um pouco de vinho tinto ou de vinagre. Deixar a costela de molho nessa mistura por cerca de uma hora. Fazer assada com batatas e/ou fatias de batata doce. Também pode ser refogada e dourada na panela.
8-Arroz carreteiro- ½ kg de arroz, 50 g bacon, ½ kg de carne seca, 1 linguiça calabresa defumada, 1 linguiça mista, 1 cebola picada, 2 dentes de alho picados, 1 colher de óleo. Preparo: Dessalgar a carne seca e cortar em cubos. Fritar o bacon até dourar e reservar. Fritar as linguiças e reservar. Numa panela grande o suficiente, refogar o alho e depois a cebola. Acrescentar a carne seca, a linguiça e o bacon e dar uma boa refogada. Colocar o arroz e refogar. Juntar água quente, o necessário para o cozimento do arroz.
9-Arroz Tropeiro mineiro- Meio quilo de arroz, 1 colher de óleo, 1 tablete de caldo de galinha, pimenta-do-reino a gosto, 1/2 quilo de carne de sol; três dentes de alho, 1 cebola roxa, 2 tomates e salsinha bem picadinhos. Preparo: Picar a carne em tiras finas e refogar em óleo e alho. Adicionar um pouco de água quente e deixar a carne cozinhar por uns 10 minutos. Em separado, ferver água para o cozimento do arroz; quando ferver, juntar a ela o caldo de galinha e os temperos picados. Colocar o arroz para refogar junto com a carne. Adicionar a água que foi fervida e temperada para o cozimento do arroz. Não deixar secar muito, pois o ponto desse arroz é meio mole.
10- Carne seca com farofa de farinha de milho amarela e torresmo, acompanhada de mandioca, cará e pedaços de abóbora cozidos. Decorar com pimentas.
11-Leite de cabra- Oferendar em copos ou em metades de casca de coco, especialmente em trabalhos de limpeza “pesada” e para saúde. Pode-se fazer banho: aquecer água e retirar do fogo. Juntar um pouquinho do leite de cabra e fazer o banho.
Texto doutrinário: Os Boiadeiros
Fonte: “Arquétipos da Umbanda”, Rubens Saraceni, Madras Editora, 2007, páginas 108/109 e 111.
A Bíblia cita carruagens de fogo (de luz) puxadas por cavalos. Também cita os Cavaleiros do apocalipse, em suas cavalgadas pelo espaço levando o terror aos pecadores.
Outras mitologias religiosas citam seres espirituais que cavalgam pelo espaço infinito. Inclusive, a Mitologia cita as Valquírias, que eram (ou são) exímias amazonas sobrenaturais. A mitologia grega cita Pegasus, o cavalo alado, e cita seres que têm corpo de cavalo e humano.
Bem, separando as descrições míticas, temos de fato espíritos de cavalos que, após desencarnarem, retornam para uma dimensão da vida que é, em si, uma realidade de DEUS, toda dedicada a abrigá-los. E não só aos que encarnaram, porque essa realidade se assemelha a um sonho ou a um conto de fadas. Além de ser uma dimensão quase toda plana, só quebrada por algumas ravinas, colinas, bosques e riachos, ela é infinita em qualquer direção, e é toda verdejante, recoberta por algumas espécies de gramíneas ou capins de baixa estatura.
Nela vivem equinos das mais variadas espécies, cada uma tão bela quanto as outras; e andam em manadas tão grandes que encantam os olhos de quem os vê correndo ao longe.
Ninguém é obrigado a crer no que aqui revelamos, mas essa dimensão realmente existe. Assim como existem os verdadeiros exércitos de espíritos montados em seus garbosos cavalos que, a um comando dos seus montadores, se atiram numa cavalgada pelo espaço.
Briosos e fogosos, esses cavalos obedecem aos seus montadores como se ouvissem o pensamento deles.
Esses exércitos de espíritos montados vigiam, como soldados dedicados, tudo o que acontece nos campos da Lei Maior e sempre estão prontos e alertas para acudirem os necessitados.
Ogum, na Umbanda, difere um pouco de sua descrição no Candomblé porque nela Ele foi todo associado à Lei Maior e é “o senhor das demandas”.
Ogum corta demandas o tempo todo para os umbandistas. São pedidos e mais pedidos nesse sentido e ninguém mudará essa imagem, esse arquétipo de Ogum, pois foi pra exercê-la que ele foi incorporado à nascente religião umbandista.
Pois bem, a Linha de Boiadeiros é sustentada, em um dos seus Mistérios, por Ogum, e a alusão aos cavalos, ao tocar da boiada, ao laçar e trazer de volta o boi desgarrado do rebanho, o atolado na lama, o arrastado pelos temporais, o que se embrenhou nas matas e se perdeu, o que foi atravessar o rio e foi arrastado pela correnteza, etc., tudo tem a ver com o trabalho realizado por esses destemidos espíritos Boiadeiros de Umbanda.
E assim sucessivamente com as alusões dos seus pontos cantados, pois as “ventanias”, as “poeiras”, as “enxurradas” e outros simbolismos indicam os campos de atuação e de ações desses espíritos aguerridos que lidam com os “bois desgarrados do grande rebanho”.
Na Bíblia, o cordeiro simboliza espírito.
Na Umbanda dos Boiadeiros eles são chamados de “bois”.
Boiadeiros são espíritos que conduzem de volta às pastagens tranquilas e seguras os “bois” que se “desgarraram” e se desviaram da grande corrente evolucionista humana.
É para buscá-los de volta e reincorporá-los, mesmo que à força (o laço e o chicote), que os Boiadeiros (Caboclos de Ogum ligados ao TEMPO) existem.
Eles não são só espíritos de ex-vaqueiros ou ex-peões. Eles são grandes resgatadores de espíritos rebelados contra a Lei Maior porque não aceitam os “cabrestos” ou as “peias” criadas por ela [Lei Maior] para educar os “cavalos e bois” [espíritos] chucros e arredios, difíceis de serem domados e domesticados.
O simbolismo por alusão é tão associado à lida com o gado e com suas dificuldades que, ou o interpretamos corretamente ou muitos desavisados ficarão com a impressão de que eles são só espíritos de ex-peões tocadores de gado do plano material.
Ogum é o senhor das demandas;
Yansã é a senhora dos Eguns (espíritos);
Logunan é a senhora do Tempo cronológico [Obs.: do tempo que passa, das eras, e também do Tempo Infinito de Deus, que é a eternidade].
No tempo, em que tudo acontece (a evolução), esses Caboclos de Ogum demandam com as forças das trevas pela libertação e reerguimento consciencial dos espíritos, amparados pela nossa Divina Mãe Yansã.
Também, a Linha de Boiadeiros é uma linha transitória criada por Ogum e outros Orixás para que todos os Exus de Umbanda, assim que evoluam, possam galgar um novo grau de trabalhos espirituais, no qual deixam de ter que atender a todos os pedidos, não importando se são justos ou injustos, se são bons ou ruins, pois Exu é neutro e assume a polaridade de seu ativador. [Obs.: Exu é neutro. Ele “funciona” de acordo com a polaridade da pessoa que o ativa. Mas a responsabilidade é de quem o ativou e lhe deu a própria polaridade, boa ou má].
Todo espírito que atua como Exu de Umbanda, ao conquistar o grau de Boiadeiro, recupera o seu livre arbítrio e já não é obrigado a responder às invocações com fins negativos.
Após conquistar o grau de Boiadeiro, o espírito deixa de ser conduzido pelos “bois” e torna-se um tocador “de gado”.
Jetuá, Boiadeiro!

3/25/2014

Humildade no candomblé


Sempre ouvir dizer que CANDOMBLÉ É HUMILDADE . Em pleno Século XXI, onde temos acesso a muitos benefícios, onde muitos saíram da situação de miséria,vejo muita gente reclamando do luxo de alguns terreiros e re-afirmando que candomblé é HUMILDADE. Mas será que entendemos e sabemos diferenciar HUMILDADE DE POBREZA E DE MISÉRIA? O que é humildade? O que é pobreza? O que é miséria? Pq nossos terreiros ainda precisam ficar na situação de miséria? Vamos ver as diferenças dos significados dessas palavras??? (Jucy Bruno).

HUMILDADE
Vem do latim humilitas, e é a virtude que consiste em conhecer as suas próprias limitações e fraquezas e agir de acordo com essa consciência. Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é considerada pela maioria das pessoas como a virtude que dá o sentimento exato do nosso bom senso ao nos avaliarmos em relação às outras pessoas. Características como cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade, embora sejam frequentemente associadas à humildade, são independentes. Portanto, quem as possui não precisa necessariamente ser humilde.
Muito confundida com Modéstia, pode ser exatamente o contrário, o modesto tem falta de ambição, a humildade pode estar no ato de reconhecer que em determinado momento estamos sendo ambiciosos ao invés de gananciosos.
Diz-se que a humildade é uma virtude de quem é humilde; quem se vangloria mostra simplesmente que humildade lhe falta. É nessa posição que talvez se situe a humilde confissão de Albert Einstein quando reconhece que “por detrás da matéria há algo de inexplicável”.

A POBREZA
Pode ser entendida em vários sentidos, principalmente:Carência cogonal; tipicamente envolvendo as necessidades da vida cotidiana como alimentação, vestuário, alojamento e cuidados de saúde. Pobreza neste sentido pode ser entendida como a carência de bens e serviços essenciais.Falta de recursos econômicos; nomeadamente a carência de rendimento ou riqueza (não necessariamente apenas em termos monetários). As medições do nível econômico são baseadas em níveis de suficiência de recursos ou em "rendimento relativo". A União Europeia, nomeadamente, identifica a pobreza em termos de "distância econômica" relativamente a 60% do rendimento mediano da sociedade.
Carência Social; como a exclusão social, a dependência e a incapacidade de participar na sociedade. Isto inclui a educação e a informação. As relações sociais são elementos chave para compreender a pobreza pelas organizações internacionais, as quais consideram o problema da pobreza para lá da economia.

O QUE É MISÉRIA:

Miséria significa mendicância, estado de penúria. É uma expressão usada quando pertinente à falta de necessidades básicas para a sobrevivência.

Fonte: Wikipédia

3/24/2014

A REVOLUÇÃO UMBANDISTA

A REVOLUÇÃO UMBANDISTA
Umbanda sempre foi e sempre será: paz, amor e caridade. Seu fundamento básico nunca muda: “Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade”.
Creio que nunca será demais repetir essas palavras, que são do primeiro umbandista, Zélio de Moraes, incorporado do Caboclo das Sete Encruzilhadas, em 1908. Essa é a nossa base fundamental, nosso alicerce, nossa unidade, que se completa com essa frase: “Com quem sabe mais vamos aprender, a quem sabe menos vamos ensinar e a ninguém virar as costas”.
Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciaram a nova religião de uma forma muito simples. Seus fundamentos maiores dizem respeito à essência da caridade espiritual e ao ato de incorporar entidades que se agrupam nas linhas de trabalho (caboclo, preto-velho...) e dentro de uma liturgia, um ritual, que acontece dentro de um templo (tenda, centro, terreiro...).
Sem dogmas ou tabus, a Umbanda se manifesta diversa, mantendo sua unidade essencial, que é em si seus fundamentos básicos.
Dentro desse contexto, há espaço para que essa religião acompanhe a evolução dos tempos sem choques entre a doutrina e a modernidade, por exemplo. A sociedade evolui como um todo e a Umbanda tem condições de evoluir junto, reciclar-se e renascer a cada período. Estamos atualmente num desses períodos de mudança, na sociedade e na Umbanda.
Uma revolução pacífica e silenciosa está acontecendo na religião. Podemos observar aos poucos uma mudança de perfil e comportamento dentro da Umbanda.
Cada vez menos temos ouvido a frase: “Eu não sei nada, meu guia é quem sabe tudo”.
A ideia de que um médium não deveria estudar, para não atrapalhar o trabalho de seu guia, está cada vez mais caindo por terra e fora da realidade. Quem atrapalha, interfere ou mistifica, faz com ou sem informação, pois é um sinal de desenvolvimento às pressas ou falta de ética ou bom senso. Não estudar, sempre será sinal de ignorância.
As tradicionais respostas: “você ainda não está pronto para este conhecimento” ou “ainda não é hora de você aprender tal fundamento”, para todos os questionamentos dos médiuns, já não encontram muito espaço na Umbanda.
Sonegar informação, manipular pessoas com tirania, coerção, usando um poder que não lhe pertence de fato, ou abusar de um “segredo” como instrumento de um poder efêmero já não cabe na Umbanda e não funciona com essa geração, ligada na internet e no Google.
Essa nova geração cresceu lendo livros de Umbanda, consultando a internet e perguntando o porquê de cada fundamento. Cada vez mais os sacerdotes de Umbanda devem se preparar para escolher bem e estar à altura dessa nova geração, afinal essa é a geração que vai reconstruir a Umbanda no futuro, e só nos cabe optar por aceitar e participar, ou nos colocar no ostracismo de “múmias” de um tempo perdido, no qual tudo era dogma, segredo ou tabu.
De tempos em tempos a Umbanda se recicla.
Do seu início acanhado de 1908 a 1920, seguiu uma multiplicação primeira de 1930 a 1940, houve uma grande expansão de 1940 a 1970 e o grande esvaziamento da religião entre 1980 e 1990.
Agora a Umbanda vive um período único de amadurecimento e expansão lenta em passos firmes. Estamos aos poucos vencendo o preconceito e mostrando à sociedade o que é Umbanda. Cada um de nós umbandistas é um formador de opinião, não podemos nos omitir e temos a responsabilidade de nos preparar cada vez mais para esclarecer aos que nos cercam e a nós mesmos.
Hoje temos bons cursos, livros e jornais, como o Jornal de Umbanda Sagrada, que tem distribuição gratuita há mais de dez anos, divulgando os princípios e fundamentos da religião de Umbanda. Só não se informa quem não quer.
Continua valendo o velho adágio: “quem não vem pelo amor, vem pela dor”. Mas agora, nas palavras do irmão Adriano Camargo, temos a terceira via, a do conhecimento. Muitos chegam à Umbanda por meio do conhecimento, com sede de saber, e encontram em seu seio informação para o corpo, mente, espírito e coração.
O jovem umbandista, o adolescente, já chega dentro e inserido nessa realidade, nessa “revolução umbandista”.
Graças a Deus e aos Orixás, alguns visionários como Pai Ronaldo Linares e Rubens Saraceni ouviram o chamado do astral e prepararam muitos médiuns e sacerdotes para dar o amparo intelectual, de conhecimento e cultura como berço da Umbanda que queremos... para muito além da Umbanda que temos, pois tudo evolui sempre.
Alexandre Cumino

3/21/2014

AS 7 FORÇAS DO MÉDIUM



1 - O amor
É o Poder Absoluto que gerou a natureza e todas as outras coisas É a força eterna, fonte do tudo e do nada. O amor é a base de tudo, envolve a estrutura de todos os fatos no desenvolvimento.

2 - A piedade
É o sentimento de devoção e de dar auxílio, ajudar, compadecer do sentimento alheio. Bondade para com o próximo, que causa para o médium um bem-estar no ato. É a força doada pelo Criador do Céu e da Terra, exemplificada na criação do Universo astral , como segunda via de evolução para voltar às origens.

3 - Humildade
É o sentimento de simplicidade nas expressões a si mesmo; submissão à força superior; conhecimento de sua razão e respeito à do outro. Pedir com devoção conhecendo o seu valor e o da fonte superior. Conhecer o seu lugar, o seu eu, a sua missão, para seguir o seu caminho com resignação.

4 - A Fé
É o sentimento da crença, do crédito, do valor recebido, a confiança, a graça alcançada vinda de "cima", das forças superiores. É, também, complemento da força da humildade.

5 - Firmeza
Esta é a força adquirida pela sabedoria. O equilíbrio de forças adquirido através da pesquisa, do interesse, na busca dos conhecimentos das Leis Sagradas. Conhecendo estas Leis, terá forças para saber como agir e por que agir. É saber pagar o que deve, para receber o que merece.

6 - Segurança
Força adquirida pelo conhecimento da origem das coisas. Só se sente seguro em determinado lugar quem conhece profundamente este lugar. Quando estamos numa ponte, só nos sentimos seguros quando vemos as suas estruturas, suas bases, o material de que é feita, quem a fez e com que finalidade. Conhecendo a origem da ponte, então nos sentimos seguros. E nós, o que somos?, Como nos sentimos seguros de nós mesmos sem conhecer a nossa origem!

7 - A Força
É o conhecimento dos rituais e da magia. A força do médium depende de seus conhecimentos da mística espiritual. Estes conhecimentos são adquiridos à medida que são merecidos e dados ou autorizados pelo Pai de Coroa (guia de frente), seja ele de uma banda ou de outra. Se o médium conhece as Leis Sagradas, ele sabe a que caminho leva uma banda ou outra, se está na banda de Luz (quem conhece a Luz, também conhece as trevas e por isso prefere a Luz), seu caminho será conduzido pela Luz. Se a força do médium é adquirida pelas trevas (quem vive nas trevas é porque não conhece a Luz), seu caminho será conduzido pelas trevas. O símbolo da força de um médium é o próprio ponto de força de seu Pai de Coroa.

3/20/2014

Obaluaê

Obaluaê...

O MITO - O ISOLAMENTO

Conta a lenda que um certo dia de festa, todos os deuses estavam dançando, menos Obaluaê, que ficara timidamente na porta. Ogum, então, perguntou a Nanã: Meu irmão está lá fora, não vem dançar? Nanã respondeu que ele tinha medo de aparecer um público, devido ao estado da pele de seu corpo. Ogum, então resolveu ajudá-lo, pois não pode ver uma situação à sua frente em que alguém sofra por desrespeito ou preconceito dos outros. Ogum resolveu o problema convencendo Obaluaê a acompanha-lo até a floresta, onde teceu para ele uma roupa feita com folhas que esconderia sua aparência. Assim Obaluaê teria coragem para entrar na sala onde ocorria a festa, sem medo de ser rejeitado. Porém, a estratégia de Ogum não foi muito bem sucedida. Muita gente tinha visto Ogum sair para ir até Obaluaê antes de se reaproximar trazendo uma figura misteriosa, pois ela estaria carregada de pestes e poderia contaminar a todos. Somente Iansã, a deusa dos ventos, altiva e corajosa, concordou em acompanha-lo. Dançou com Obaluaê e, junto com eles, o turbilhão de ventos. Os ventos de Iansã levantaram as vestes dele. Então todos os presentes, com espanto, puderam verificar que, abaixo das vestes, se escondiam o rosto e o corpo de um homem belíssimo, sem defeito algum. Em recompensa pelo gesto de Iansã, Obaluaê deu o poder a ela de reinar sobre os mortos. Mas Obaluaê sempre continua sua dança sozinho.

3/19/2014

Incorporar

Incorporar não é algo a se fazer, não pertence ao realizar, não é algo que você simplesmente realiza. Incorporar pertence ao não fazer, você deve apenas se entregar.

Incorporar não é uma atividade e sim uma passividade.

Você apenas aceita que algo inexplicável aconteça, você aceita um encontro profundo do seu ser com um outro ser, um encontro de almas. Neste encontro o seu centro mais profundo entra em contato com o centro deste outro ser e amavelmente, passivamente, você lhe entrega a sua periferia.

No interior estão os dois unidos, no exterior é apenas ele, o outro, o guia quem deve se manifestar. E isto também se aprende. Faça desenvolvimento mediúnico, você não tem nada a perder, apenas a ganhar. Ganhar uma familia espiritual, ganhar a oportunidade de viver com seu Mestre, ganhar amor, muito amor, amor incondicional, que é o amor da espiritualidade por nós!


 Alexandre Cumino

3/18/2014

Não desista! Tente!

Um rapaz pediu a Jesus um emprego, e uma mulher que o amasse muito.
No dia seguinte, abriu o jornal e tinha um anuncio de emprego.
Ele foi, viu a fila muito grande e disse:eles são melhores do q eu, e foi
embora.
No caminho, um garoto lhe deu uma rosa ….no ônibus ele chateado joga a
rosa fora .
E ao chegar em casa briga com Jesus
….É assim que me tratás?
…É assim que me amas ?
E vai dormir. Em sonho Jesus lhe diz: O emprego era seu, mas vc ñ confiou
e desistiu antes mesmo de lutar; aquela rosa foi eu que te dei …inspirei
aquela criança a lhe dar!!! O amor da sua vida, estava sentada ao seu lado
em vez de vc dar a rosa a ela vc a jogou fora.
Vc entendeu como Jesus age na sua vida?
Ele abre as portas te mostra o caminho mas a tua fé é tão pouca que
desiste no primeiro obstáculo. Não desista confie que Jesus pode agir na
sua vida.
Os obstáculos existem para ver até onde vai a tua fé. Passe adiante, isso
já será um sinal que Jesus está agindo em sua vida!!!

Atabaques na Umbanda

Fundamentos de cantar, bater palmas e tocar Atabaques na Umbanda
Newton Carlos Marcellino
Para tentar explicar como se dá a comunicação entre os planos espiritual e material, grosseiramente, podemos imaginar essa comunicação através de freqüências.
O rádio, a TV, o celular são exemplos. Estes aparelhos emitem freqüências de um ponto, o transmissor, até outro ponto, o receptor. As freqüências não se cruzam porque uma é mais forte do que a outra. O receptor recebe apenas a freqüência na qual está programado.
Analogamente, se imaginarmos que nossos pensamentos são como freqüências e as vibrações emitidas pelos espíritos também são freqüências, podemos dizer que são essas freqüências que ligam espíritos e matéria, onde conseguimos nos conectar com os espíritos de acordo com nossos pensamentos e atitudes, logo, pensamentos baixos atraem espíritos de camadas mais inferiores do plano espiritual, e pensamentos mais elevados, atraem espíritos mais elevados.
Quando nos dirigimos ao terreiro, dependendo de como foi nosso dia, nossa semana, nós estamos vibrando numa freqüência tal que pode interferir nos trabalhos, ajudando ou atrapalhando. Um dia vivido em torno de brigas e discussões, alimentação pesada, pensamentos voltados para o ódio, má conduta, etc, deixam a freqüência muito baixa, atraindo espíritos que vibram numa esfera mais baixa, e isso faz com que o trabalho seja prejudicado. Um dia bem vivido, trabalhado e participativo nas coisas particulares, uma boa alimentação, bons pensamentos, preparação mental para a gira, faz com que nossa freqüência fique mais elevada, atraindo espíritos de esferas mais elevadas.
Para que os trabalhos não sofram variações excessivas de freqüências, para que se evitem a atração de espíritos de esferas inferiores e para o bom andamento da gira, é usado um artifício que acelera o processo para que todos, ou pelo menos a maioria, se concentrem no trabalho e eliminem pensamentos mais baixos, que é de cantar e bater palmas.
Como funciona?
Ao final de um espetáculo, um show, um discurso, normalmente as pessoas batem palmas para demonstrar àquele que se apresentou o agradecimento, por compartilhar aqueles minutos de entretenimento ou aprendizado. Se as palmas se estenderem por vários segundos, aos poucos elas vão entrando num ritmo e muito rapidamente todas as pessoas batem palmas no mesmo ritmo e, junto com essa sonorização, algo começa a acontecer: as pessoas começam a se sentir mais alegres, com vontade de rir, ou seja, as pessoas ali envolvidas começam a vibrar numa mesma freqüência, e inconscientemente, todas estão fazendo as mesmas coisas que as outras pessoas estão fazendo.
Já com o canto, logo de início, todos começam a cantar juntos, e isso faz com que a vibração das pessoas se equalize mais rapidamente.
Quanto mais cantamos, mais batemos palmas, mais rapidamente elevamos o nível de freqüência das pessoas, fazendo com que, momentaneamente, os problemas, a baixa auto-estima, as preocupações, sejam esquecidos, pois todos começam a prestar atenção no trabalho que está sendo realizado e isso ainda ajuda a absorver as informações que estão sendo passadas.
Com a freqüência estabilizada, os espíritos conseguem se aproximar mais facilmente de nós, permitindo assim que o trabalho transcorra com mais facilidade e de acordo com o pretendido pelos planos espiritual e material.
Para acelerar mais ainda o processo, usa-se o atabaque, pois o som emitido pelo atabaque ajuda a igualar o ritmo cardíaco de todas as pessoas no terreiro, fazendo com que, por exemplo, para quem chega muito afobado, o ritmo cardíaco é normalizado, diminuindo a afobação, ou para quem chega muito para baixo, com o aumento do ritmo cardíaco, ajuda na elevação da auto-estima. Com base nisso, por estarmos cantando e batendo palmas, além de estarmos mudando nossa freqüência, também estamos praticando caridade, por já estar ajudando outras pessoas.
Com todos participando, batendo palmas e cantando, o clima do terreiro já fica muito melhor, pois todos estão ajudando, focados num mesmo objetivo.
No plano espiritual, os guias preparados para o trabalho, aguardam nossa vibração equilibrar-se com a vibração deles, e assim que nossas freqüências começam a se igualar, eles se aproximam e iniciam o processo de incorporação.
Quando começamos a cantar os pontos dos guias que trabalharão na gira, estamos dizendo para os guias que já estamos prontos e podemos começar a incorporar.
Normalmente, no processo de incorporação, os guias cantam, muitas vezes para si, para que seja mais fácil ainda, e no caso de um guia estar trabalhando no desenvolvimento de um cambono, o guia canta para o cambono ouvir o ponto e elevar sua freqüência para facilitar a incorporação.
Cantamos pontos para ajudar a desincorporação, facilitando assim a “subida” dos guias que levam com eles todo e qualquer tipo de fluído ou influência que possa atrapalhar o médium.
Os pontos cantados trazem mais energia do que podemos imaginar. Quando feitos pelos guias, são conhecidos como “pontos de raiz” e as palavras não podem ser mudadas, pois toda a mironga feita pelo guia está nas disposições das palavras. Quando feita pelo homem, as palavras podem ser mudadas e adaptadas para que fiquem bem arranjadas.
Se prestarmos atenção, alguns pontos parecem não fazer sentido, mas quando cantados, no ritmo certo, acabamos fazendo as mirongas que estão escondidas nos pontos. É por isso que alguns pontos possuem palavras conjugadas de maneira errada ou em tom bem caipira, pois essas palavras foram inseridas nos pontos propositalmente, para poder servir como “palavras mágicas” a serem proferidas por todos, ou seja, os sons que essas palavras produzem é que produzem os efeitos requeridos.
Alguns pontos, quando entoados, podem afastar diversos males, como espíritos obsessores ou pessoas que tentam derrubar o terreiro.
Há pontos de saudação, para defumação, para firmeza, para afastar quiumbas, para descarrego, para despedida, para provocação, para cruzamento de linhas, para cruzamento de falanges, etc. Cada um deve ser cantado de acordo com sua finalidade para o bom andamento do trabalho.
Alguns pontos devem ser evitados cantar tanto dentro do terreiro quanto em nossas casas, pois eles podem atrair maus espíritos. Pontos que falam muito de cemitério, morte, ou qualquer tipo de bestialidade devem ser evitados.
Os atabaques não são simplesmente caixas de madeira com um couro para se batucar, eles são preparados e energizados para o trabalho logo que são trazidos para o terreiro.
Ao ser entregue no terreiro, primeiro é trocado o couro que vem com o atabaque, para eliminar os fluídos de “comércio” que foram depositados sobre ele na loja que o comercializa; depois, são feitos os primeiros preparos de limpeza do atabaque; em seguida, o guia chefe da casa cruza o atabaque iniciando o processo de mironga que será depositada sobre o atabaque. São colocados patuás de acordo com o guia que será o “dono” do atabaque e são feitas rezas sobre ele para fortalecer a energização.
O ogan chefe, ou atabaqueiro chefe, pede forças e energia para o guia, dono do atabaque, para que sejam depositados os fluídos necessários no couro, e toca o atabaque pela primeira vez para que sejam abertas as forças que regerão o atabaque. Em seguida o atabaque é entregue ao ogan que tocará o atabaque nos trabalhos.
Normalmente em um terreiro, os atabaques são múltiplos de três, mas são os guias que definem o número correto a ser utilizado nos trabalhos. O maior dos atabaques é o Rum, destinado ao guia que rege a casa; o segundo, é o Rumpi, destinado ao segundo guia que rege a casa ou ao guia que rege a coroa do pai ou mãe-de-santo fundadores do terreiro; o terceiro, e o menor deles, é o Lé, muitas vezes destinado à Exu ou a um guia homenageado pela casa. As ordens dos donos de cada atabaque são definidas pelos guias que regem o terreiro, podendo eles alterar essa disposição.
O Rum é sempre tocado pelo ogan chefe e só poderá ser tocado por outro ogan
desde que o ogan chefe permita. Ele, o Rum, serve para dar os primeiros toques nos pontos, repicar e conduzir os trabalhos. O Rumpi é tocado pelo segundo ogan, dando o ritmo do toque e mantendo a harmonia. O Lé é tocado pelo ogan iniciante, que ainda está em processo de aprendizado, seguindo sempre os toques do Rumpi.
Se um ogan de outro terreiro visitar a casa, este deve pedir autorização ao guia chefe para poder tocar o atabaque, e deverá ter permissão do ogan chefe para tocar o atabaque, que lhe direcionará ao atabaque próprio para receber um convidado (normalmente não é permitido ao convidado tocar no Rum).
Em terreiros tradicionais e candomblés, o ogan chefe sempre é considerado o detentor do conhecimento sobre as giras, assumindo sempre sete anos a mais de experiência sobre o pai ou mãe-de-santo. Isso se deve ao fato de que o ogan conhece todos os preparos para as giras, e é quem conduz a energia de sustentação dos trabalhos.
Os guias normalmente indicam os futuros iniciantes ao ofício de ogan, mas cabe ao ogan chefe permitir a entrada e designar o atabaque para o iniciante.
Um ogan mal intencionado pode derrubar uma gira apenas tocando o atabaque, e muitas vezes, consegue derrubar todo o terreiro. Para que se evitem problemas, há pontos chamados de provocação, onde o ogan do terreiro tenta quebrar as forças do ogan mal intencionado entoando pontos de quebra de forças e demanda.
Cada ogan tem sua função nas giras, além de tocar os atabaques e facilitar a corrente de energias. Um dos ogans, sempre volta sua atenção ao que acontece dentro do congá, mantendo o trabalho em equilíbrio e de acordo com as orientações do guia chefe; outro ogan tem sua atenção voltada à assistência, onde fica atento sobre possíveis problemas ou olhares de pessoas mal intencionadas; o terceiro ogan presta atenção de uma maneira geral, auxiliando os outros ogans.
Alguns terreiros de candomblé não permitem que mulheres sejam ogans alegando, segundo Mattos “(…) que elas não poderiam usar os instrumentos sagrados
por ficarem de pajé (menstruadas)” (pg. 93). Ainda citando Mattos, “(…) porém, na umbanda, um indivíduo feminino tem totais condições de ser uma atabaqueira, sem problema algum. Se considerarmos que os Ogãs tem um poder divino, uma faculdade mediúnica musical, esta não vem com o gênero, e sim com o espírito e este por ter origem na essência divina, não tem sexo” (pg. 93).
Há outros instrumentos que são usados nos trabalhos para auxiliar os toques dos atabaques, como o agogo, chocalho, triângulo, pandeiro, berimbau, etc.
É importante que os filhos da corrente e a assistência participem das giras cantando e batendo palmas, pois sem essa união de forças dificultam o bom andamento do trabalho. Se não sabe o ponto, bata palmas, mas principalmente, preste atenção nos pontos, pois normalmente eles são curtos e repetitivos, fáceis de aprender. Para os pontos mais longos, que quase não se repetem, ou mesmo para aqueles pontos que são cantados em giras especiais, como de ciganos, marinheiros ou boiadeiros, os terreiros muitas vezes deixam disponíveis pastas com os pontos escritos, e em alguns casos, as pessoas se reúnem antes das giras para cantarem os pontos e aprenderem aqueles que não sabem.
Não é vergonha não saber os pontos, vergonha é não participar, não ajudar a cantar ou bater palmas, assim como achar que não tem voz boa pra cantar e por isso não cantar.
Cantar ajuda a todos, aos guias, aos médiuns, aos cambonos, a assistência, a afastar maus espíritos, más influências, miasmas no plano astral, energias negativas, e atrai sempre bons fluídos, boas energias e boas vibrações.